UM CONTO

Decidi hoje contar-te esta pequena história, que tu tão rapidamente perceberás e todos compreenderão…


Posted by Hello Olhares


Naquele dia eu não estava especial ou particularmente feliz, não estava e motivos não tinha para a tristeza, era apenas um dia que sucedia a outro.
Caminhava em direcção ao escritório, e como habitualmente, com passo curto, firme e sem pressa olhava os rostos que comigo se cruzavam naquela amálgama.
Aquele lugar como todos os lugares povoados por pessoas, onde os cheiros, cores e vozes se misturam, ( já reparaste como os cheiros e cores me arrebatam ? ) provocou em mim uma sensação de “embriaguez” e pareceu conduzir-me até teus olhos.

Lembro-me de te sentir entrar em mim e eu em ti, sentir o que nunca antes sentira e subitamente não te ver mais e ficar com uma enorme ansiedade (aquela vontade de alcançar algo que causa um frio na barriga, e coloca as pernas e o queixo a tremer).

Podia ter sido uma alucinação, um sonho, mas não foi o caso.

Dias depois numa rua menos movimentada, cruzámo-nos outra vez e sem trocar uma palavra voltámos a trocar cúmplices olhares, desta vez foram olhares de provocação, de puro desafio e incitamento. E eu decidi seguir-te. (...)

A última vez que nos olhámos sem nos tocarmos foi no supermercado, as tuas 3 amigas também olhavam e foi a última vez ....

Não trocámos uma palavra (apesar de as termos pronunciado), não sei o teu nome (não sei se sabes o meu), contudo lembro-me do teu cheiro, da cor de vários centímetros do teu corpo, do toque acetinado da tua pele e sobretudo sinto ainda dentro de mim o teu olhar.

Ainda existirá o ninho que nos acolheu em silêncio ?

Nós sim, e as lembranças também.

Comentários

João disse…
Muito bom! A fluídez e naturalidade do discurso, evitam as amarras do "contar" que muitas vezes quem escreve não consegue evitar. Os sentimentos são quase verdadeiros e o leitor chega a tactear a realidade que lhe propões.

Muito Bom!

Abraços
JC disse…
Caro Carlos,

também concordo plenamente com o "conceito".
Sem dúvida que o cheiro é das sensações que mais avidamente relacionamos, que nos transportam através do tempo e das lembramças a lugares, a coisas ou a pessoas que outrora a ele relacionamos.
Os olhares são, na minha opinião, uma linguagem silênciosa, um subtil meio de comunicar que fica gravado na nossa memória,..." palvras leva-as o vento "... e os olhares? Quem os leva?

Obrigado por ter adicionado o meu blog.

Um abraço, J. Lomba
Dra. Laura Alho disse…
É difícil exprimir o que senti ao ler este texto, porque o compreendi perfeitamente. Porque dentro de mim despertaram sentimentos idênticos e recordações que o tempo não apaga.
Os cheiros também se prendem em mim, mas confesso que agora é difícil senti-los com a mesma intensidade porque já me familiarizei com alguns dos que mais gosto.
Mas os olhares, essa linguagem mágica, continua bem avivada. E confesso que a acho preferível a muitas palavras que possam ser ditas.
O silêncio e os olhares são capazes de nos incendiar e de nos arrefecer os corações...

Sinto que não partilhei tudo o que sentia. Talvez porque é demasiado similar ao texto. Talvez porque seja segredo.

Boa semana :) * Beijinho
Estrela do mar disse…
...é interssantissimo como os cheiros são tão importantes...na maior parte das vezes quando sinto um pefurme... identifico-o logo à pessoa que o usa...ou usou...é algo de mágico...

Tem um bom fim de semana.
Um beijinho*.
Estrela do mar disse…
...onde se lê "intersantíssimo"...é para se ler "intressantíssimo"...sorry...
Dra. Laura Alho disse…
Hoje os meus olhos reencontraram-se com uma amizade esquecida no tempo. Senti-me voltar há oito anos atrás. Como pode um olhar reconhecer-se imediatamente?

Beijinho e um bom fim-de-semana, Carlos! *

Postagens mais visitadas deste blog

O branco e o encarnado

Há palavras

Imagem